ÉTICA NA MÍDIA x FORMADORES DE OPINIÃO


3 de jun. de 2007

ROBERTO CARLOS E A CENSURA




"Não li o livro todo. Mas, me desagrada muito porque ofende a mim e pessoas que me são caras. É muito estranho que alguém lance mão da minha história, meu patrimônio pessoal em seu benefício e para um fim comercial. Estou muito aborrecido, meus advogados estão estudando a questão: vamos agir dentro da lei"- Roberto Carlos
.


Publicado na revista Veja do dia nove de maio, o artigo "A fogueira de Roberto Carlos" falava sobre o embargo jurídico que o cantor conseguiu impor à biografia não -autorizada "Roberto Carlos em Detalhes", feita pelo historiador Paulo César de Araújo e publicada pela editora Planeta. Muito já foi discutido sobre a polêmica que o "cala-te-boca" do cantor gerou, e as opiniões estavam divididas em relação à postura tomada por Roberto Carlos, se era censura à liberdade de expressão ou legítimo direito de defesa contra invasão de privacidade.

Paulo Coelho, em artigo na Folha de S. Paulo, censurou tanto o autor da proibição, por sua “atitude infantil”, quanto à própria editora por ter cedido tão facilmente em um acordo que colocou panos quentes na situação. O argumento de Coelho é de que o cantor é uma pessoa pública, portanto, as informações sobre sua vida não lhe pertencem. Ultimamente muito se debate sobre a questão do público/ privado e qual é a fronteira na sociedade contemporânea. Mas há uma questão que não foi abordada pela mídia e que seria importante destacar: muitos exemplares desse livro foram vendidos desde o lançamento e tantos outros estão em circulação até o momento. Estamos na era da fotocópia há anos, do scanner, da digitalização da informação e da internet. Ora, basta que alguém disponibilize o livro on-line, o que já foi feito por inúmeros blogs e sites, para que virtualmente esse material esteja disponível ao planeta inteiro, com imensa facilidade de acesso.

A pergunta que fica é a seguinte: qual a razão para se retirar de circulação mais de 10.000 livros, quando basta apenas um para que a informação esteja disponível a todos a qualquer momento? Não estamos mais na época da imprensa escrita e limitada e sim na era da tecnologia, da sociedade em rede, que é um sistema de comunicação inteiramente diferente da cultura letrada que predominou até os anos 80.
Esse atitude de Roberto Carlos, é, no mínimo, discutível. Talvez tivesse saído mais barato – em todos os sentidos – não ter feito absolutamente nada, e deixado o livro cair no esquecimento, o que provavelmente teria acontecido. Afinal, o que há de tão importante nessa história que não possa ser narrada ou que já não seja de domínio público, em uma biografia assumidamente favorável ao biografado, feita por um historiador confessadamente fã do cantor. Isso gerou um deja-vù dos anos de ditadura e censura para muita gente. Será que alguém ainda se interessaria em ler uma biografia do cantor hoje em dia ? Para quem é fã, acredito que sim, porém , para os questionadores, os fãs do contraditório, ler uma obra dessas seria muito mais um ato crítico do que condescendente.
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Isabelle Mani

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